terça-feira, 20 de abril de 2010

13 anos e a Esquerda na América Latina.

Por Emir Sader

Como mudou o mundo nestes 13 anos.
Desde então tivemos os dois governos de FHC e sete anos do governo Lula, no Brasil. A América Latina ainda vivia o auge neoliberal. Desde então vieram várias crises, a brasileira de 1999, a argentina de 2001-2002. Paralelamente, o grito dos zapatistas em Chiapas, as mobilizações camponesas e indígenas no Brasil, no Peru, na Bolívia, no Equador, entre tantas outras mobilizações populares. O surgimento do Fórum Social Mundial, as grandes mobilizações contra a guerra do Iraque. Mas também os atentados em Nova York e em Washington, a declaração das “guerras infinitas” pelo governo Bush, as invasões do Afeganistão e do Iraque, entre outras agressões imperialistas.

Se eu fosse escolher um momento especial nesses 13 anos, eu escolheria a eleição de Evo Morales, em dezembro de 2005, para a presidência da Bolívia. Em primeiro lugar, porque pela primeira vez um indígena, em um país em que mais de 60% se considera indígena, foi eleito presidente. O mais importante, no entanto, foi ter sido eleito no bojo de cinco anos de lutas antineoliberais, demonstrando como o movimento indígena boliviano havia se transformado na liderança dessa luta na Bolívia.

Um país que tinha tido um pujante movimento mineiro quando a exploração do estanho era a atividade fundamental do país, mas essa atividade – assim como o movimento operário vinculado a ela – não sobreviveu ao devastador diagnóstico do neoliberalismo, que literalmente matou o paciente com a doença – a exploração do minério e a inflação.

A continuação desses governos das elites bolivianas esbarrou na resistência indígena quando tentou privatizar a água e aí se iniciou um novo ciclo de mobilizações populares, agora liderado pelos movimentos indígenas. Um momento decisivo na nova etapa não apenas da Bolívia, mas da esquerda latinoamericana, foi quando os movimentos indígenas passaram da resistência à disputa hegemônica, fundando um partido – o MAS. A liderança de Evo Morales e o papel intelectual e político do seu vice-presidente, Álvaro García Linera, foram determinantes para que a força social e cultural acumulada se transformasse em força política e impusesse sua hegemonia ao conjunto do país.

Esse processo faz parte do movimento político mais importante destes 13 anos, o surgimento dos governos progressistas na América Latina. Por isso, podemos dizer que, pelo menos para a América Latina – e para nós, brasileiros, entre eles – o mundo ficou melhor nestes 13 anos.

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