quinta-feira, 22 de abril de 2010

terça-feira, 20 de abril de 2010

13 anos e a Esquerda na América Latina.

Por Emir Sader

Como mudou o mundo nestes 13 anos.
Desde então tivemos os dois governos de FHC e sete anos do governo Lula, no Brasil. A América Latina ainda vivia o auge neoliberal. Desde então vieram várias crises, a brasileira de 1999, a argentina de 2001-2002. Paralelamente, o grito dos zapatistas em Chiapas, as mobilizações camponesas e indígenas no Brasil, no Peru, na Bolívia, no Equador, entre tantas outras mobilizações populares. O surgimento do Fórum Social Mundial, as grandes mobilizações contra a guerra do Iraque. Mas também os atentados em Nova York e em Washington, a declaração das “guerras infinitas” pelo governo Bush, as invasões do Afeganistão e do Iraque, entre outras agressões imperialistas.

Se eu fosse escolher um momento especial nesses 13 anos, eu escolheria a eleição de Evo Morales, em dezembro de 2005, para a presidência da Bolívia. Em primeiro lugar, porque pela primeira vez um indígena, em um país em que mais de 60% se considera indígena, foi eleito presidente. O mais importante, no entanto, foi ter sido eleito no bojo de cinco anos de lutas antineoliberais, demonstrando como o movimento indígena boliviano havia se transformado na liderança dessa luta na Bolívia.

Um país que tinha tido um pujante movimento mineiro quando a exploração do estanho era a atividade fundamental do país, mas essa atividade – assim como o movimento operário vinculado a ela – não sobreviveu ao devastador diagnóstico do neoliberalismo, que literalmente matou o paciente com a doença – a exploração do minério e a inflação.

A continuação desses governos das elites bolivianas esbarrou na resistência indígena quando tentou privatizar a água e aí se iniciou um novo ciclo de mobilizações populares, agora liderado pelos movimentos indígenas. Um momento decisivo na nova etapa não apenas da Bolívia, mas da esquerda latinoamericana, foi quando os movimentos indígenas passaram da resistência à disputa hegemônica, fundando um partido – o MAS. A liderança de Evo Morales e o papel intelectual e político do seu vice-presidente, Álvaro García Linera, foram determinantes para que a força social e cultural acumulada se transformasse em força política e impusesse sua hegemonia ao conjunto do país.

Esse processo faz parte do movimento político mais importante destes 13 anos, o surgimento dos governos progressistas na América Latina. Por isso, podemos dizer que, pelo menos para a América Latina – e para nós, brasileiros, entre eles – o mundo ficou melhor nestes 13 anos.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Ação ou propaganda?

UPP para inglês ver?
Por Vitor de Castro

Em dezembro de 2008 foi inaugurada a primeira Unidade de Polícia Pacificadora do Rio de Janeiro, na favela Santa Marta, em Botafogo, Zona Sul da cidade. Pouco mais de um ano depois da instalação das primeiras UPPs, o governo do Estado e a imprensa têm divulgado números promissores em relação à violência nessas localidades, dando como principal exemplo o morro Santa Marta.

A antropóloga e pesquisadora Ana Paula Miranda acredita que as UPPs podem se tornar uma política importante no campo da segurança pública, mas que “o que temos visto é a grande necessidade de dizerem que está dando certo. E dessa forma não estão tratando o tema com a seriedade necessária”. Ana Paula fala do aumento de 2008 para 2009 do número de homicídios e de autos de resistência na Área Integrada de Segurança Pública que engloba a favela Santa Marta. O número de autos de resistência passou de oito em 2008 para 18 em 2009 e o de homicídios de 18 para 29 no mesmo período. Esse aumento se deu justamente no ano em que a UPP já estava instalada. “Numa região que os índices de homicídios e de autos de resistência têm baixíssima incidência, um crescimento desse nível é bem alto. Isso faz parecer que estão a todo custo querendo mostrar para a opinião pública que as UPPs são um sucesso”, explica a pesquisadora.

“Por exemplo - e acho que isso é forçar a barra desnecessariamente - como dizer que diminuiu o número de assaltos a coletivos no Santa Marta, se não trafegam ônibus por lá? Eles podem dizer que os dados são de ônibus assaltados na São Clemente, exatamente em frente ao Santa Marta, mas seria no mínimo exagerado”, completa Ana Paula.

Essa necessidade de mostrar que as ações de segurança estão dando certo pode ser exemplificada por matéria publicada no dia 9 de fevereiro deste ano, quando o jornal O Globo divulgou dados disponibilizados pelo Instituto de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro (ISP-RJ). O jornal estampou em chamada de capa que a taxa de homicídios no Estado havia caído, apresentando o menor índice dos últimos dez anos, quando na verdade sofreu uma oscilação para cima de 0,2%. “Eles dizem que todos os índices de violência estão caindo, mas os dados públicos não dizem isso”, comenta a pesquisadora.

Um outro exemplo citado por Ana Paula são pesquisas de opinião realizadas por institutos que não transmitem confiança. “Um instituto que não é sério tem realizado pesquisas de opinião a um custo baixíssimo e os jornais acabam comprando. Numa delas eles falam da aprovação da quase totalidade da população em relação à UPP. Mas eles fazem pesquisa por telefone fixo e sabemos que a grande maioria dos moradores de favelas não têm telefone fixo”, questiona a pesquisadora.

Para Ana Paula, “é preciso entrar e fazer uma pesquisa qualitativa na região para avaliar essa política. Não podem achar que entrou, melhorou e acabou. Em várias cidades, como Bogotá e Medelín, pelo fato de não ter sido feita nenhuma avaliação e de se dar continuidade ao processo, muita coisa está retrocedendo”. Outro detalhe colocado pela pesquisadora é que “a população não apóia a polícia da forma que tem agido ao longo do tempo. Se a UPP representa outras práticas, a população vai preferir. Mas o que parece é que não muda tanto assim”, diz, fazendo referência ao texto escrito recentemente pelo também pesquisador Antônio Machado sobre as Unidades de Polícia Pacificadora. No artigo, Machado afirma que é preciso ter cuidado para que as UPPs não sejam um “pretexto para a exclusão social e a submissão cultural e política das camadas populares”.

Ana Paula acha necessário um acompanhamento das ações das UPPs. Para ela, qualquer política séria deve ser avaliada regularmente. Ela lamenta ainda que as dúvidas levantadas em relação às Unidades Pacificadoras “são tidas como uma crítica de uma pessoa que torce para dar errado. Se você critica, você é contra. Essa lógica é péssima, a crítica serve também para melhorar o que tem sido feito”, conclui.

“Minha esperança é de que essa política seja avaliada, criticada e que se veja o que é necessário para aprimorar. Por enquanto a UPP é uma política de governo, mas eu estou pensando não nos próximos quatro anos, mas nos próximos dez. Quero que seja uma política pública, a população está preocupada com a continuidade. É preciso que se torne uma política de estado e não um projeto de governo. E vou ficar feliz se virar uma política de estado e funcionar”, finaliza.

Retirado de http://www.observatoriodefavelas.org.br/observatoriodefavelas/noticias/mostraNoticia.php?id_content=786